Wednesday, October 2, 2013

Havia, de Joana Bértholo

Havia um Ricardo que queria ser um Francisco. Se pudesse ser um Francisco evitaria para sempre ser um João, ou um Manuel, ou um Daniel. Ou até mesmo um Pedro. Também não se importaria de ser um Afonso, um Carlos ou um Bernardo, mas o seu favorito era mesmo um Francisco.
No dia em que um Gaspar encontrou um Ricardo na rua confundiu-o com um Abel e disse-lhe, confuso:
– Bom dia, Martim.
O Martim não queria ser um Ricardo, mas adoraria ser um Rodolfo. Contudo, quando o tentou ser, alguém o confundiu com um Fernando, e desde então deixou-se ficar mesmo um Martim.
Havia um Ricardo que queria ser um Francisco e certo dia encontrou um António que lhe perguntou:
– Como vão os teus pais, a D. Madalena e o senhor Artur?
O Ricardo que queria ser um Francisco ficou perplexo, pois era evidente que um António sabia perfeitamente que os seus pais não se chamavam D. Madalena nem senhor Artur, mas sim, claro, D. Deolinda e senhor Cláudio.


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Havia um Daniel que queria ser Francisco, mas nomes há muitos.


In Havia, Caminho, 2012

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