Diz
a regra, a de S. Bento, que o monge se deve confessar a Deus, diariamente e na
solidão da cela, em lágrimas. O jovem Fabiano era o noviço que todos os dias
entrava na cela do santo e com uma pequena espátula raspava do chão o que
sobrava das lágrimas de S. Bento. Ajuntou o sal num frasquinho que ainda hoje
pode ser admirado no santuário de Rocamadour.
No
ano de 1453, o abade Teodoro de Reims teve graves problemas de desobediência no
seu mosteiro. Intrigas, questiúnculas e violência que não conseguia sanar de
modo algum, nem com a divina lectio,
nem com a confissão, nem com os salmos, oração ou sermão. Nem com os bocados de
pão ázimo que é o corpo Cristo, nem mesmo com uma conversa franca (que é o
melhor responso). Por isso, um dia, pela ceia, contou a história de Fabiano e
das lágrimas de S. Bento. Mostrou aos monges um frasco vazio e disse que havia
utilizado o sal para temperar a refeição. Os monges, comovidos com o que lhes
era revelado, abraçaram-se e os problemas acabaram ali. Esse sal operara a
transmutação, fizera do ódio, amizade.
O
abade Teodoro de Reims abandonou nesse mesmo dia o mosteiro onde fora abade
durante mais de trinta anos.
–
Prefiro não conviver com pessoas que acreditam mais num punhado de sal do que
no arrependimento verdadeiro – anunciou o abade antes de voltar para o mundo.
In Enciclopédia da Estória Universal,
Quetzal, 2009
No comments:
Post a Comment