Tuesday, November 26, 2013

"Para onde vão os guarda-chuvas" de Afonso Cruz

Mal acabei de ler este livro e já estou aqui a escrever o que senti durante esta leitura. Não que seja o ideal porque é um livro tão rico, tão cheio de palavras plenas de sentido e belas que deveria deixar passar mais tempo para o assimilar melhor... MAS tive receio de começar outro livro e deixar os meus pensamentos, os meus sentidos misturarem-se com outras histórias.

Foi fantástico descobrir a escrita de Afonso Cruz. Já estava cansada de ouvir maravilhas e achei que qualquer leitura iria ficar aquém das minhas expectativas. MAS isso não aconteceu, de facto!

A história prende, claro. MAS prende muito mais a multiplicidade de personagens, a sua riqueza tanto ao nível dos pormenores físicos como psicológicos. O mudo que fala com as mãos e que com elas faz poesia, a criança que tudo faz para ser amada e que se parece com o pai adoptivo, "invisível como as paredes", são as minhas preferidas. 

Há frases belíssimas que nos fazem perguntar como é que é possível escrever tão bem. Frases que nos deliciam os sentidos, que nos elevam para outros mundos, outros amores. Frases que nos fazem sonhar. Delícias que relemos e relemos e relemos. Não nos cansam.

O fim é imprevisível. Inexplicável. Duro.

Recomendo muito esta leitura! Quero ler outras obras de Afonso Cruz. Será possível escrever assim, sempre?


Cris

Monday, November 25, 2013

Para onde vão os guarda-chuvas?

“Para onde vão os guarda-chuvas? São como as luvas, são como uma das peúgas que formam um par. Desaparecem e ninguém sabe para onde. Nunca ninguém encontra guarda-chuvas, mas toda a gente os perde. Para onde vão as nossas memórias, a nossa infância, os nossos guarda-chuvas?”

“Para onde vão os guarda-chuvas”, de Afonso Cruz (Pág. 493)

Excerto escolhido por Márcia Balsas

 

 

 

 

Sunday, November 17, 2013

O lago Avesso, Joana Bertholo,

Um Livro Numa Frase





" Vive de tal forma para a performance exterior das coisas que se esquece demasiadas vezes de olhar para dentro." 

In Joana Bértholo, O lago Avesso, pág. 43

Cris

Sunday, November 10, 2013

O lago avesso, o avesso do lago

“Quando oficialmente sai da cama é para ir dançar, lá para baixo. Ou então para se deixar ficar horas a fio pela varanda, tendo o azul do céu como teto: o lago ao fundo, do palco, no seu avesso.”

“O Lago Avesso, de Joana Bértholo (Pág. 165)

Excerto escolhido por Márcia Balsas

 

 

 

 

Sunday, November 3, 2013

Título do Post: "Sobre a Beleza"

Sobre a beleza o meu pai também explicava: só existe a beleza que se diz. Só existe a beleza se existir interlocutor. A beleza da lagoa é sempre alguém. Porque a beleza da lagoa só acontece porque a posso partilhar. Se não houver ninguém, nem a necessidade de encontrar beleza existe nem a lagoa será bela. A beleza é sempre alguém, no sentido em que ela se concretiza apenas pela  expectativa da reunião com o outro. Ele afirmava: o nome da lagoa é Halla, é Sigridur.

Sublinhado por Ana Nogueira
em A Desumanização, de Valter Hugo Mãe

"A Desumanização" de Valter Hugo Mãe


Os livros são lidos de acordo com o nosso estado de alma e, inquieta como ando, este livro transmitiu-me uma instabilidade que não me agradou.

A escrita tão sui generis deste autor (li A máquina de fazer espanhóis e adorei!) em vez de me prender teve o condão de me dispersar e tive de repetir algumas partes do livro para entender o que por lá era dito. Acredito que o meu estado de alma não seja o melhor para uma leitura onde a prosa se mistura com mestria na poesia, mas ficará para outra ocasião uma outra leitura com outros olhos ou outros "sentires".

O facto de ter sido "escrito" por uma menina de 13 anos atraiu-me e nem pensei em não terminar a história que ela me contava. O tom íntimo com que impregna às palavras deixa um laivo de mistério que nos força a querer saber como termina a história. Mas tê-la-ia apreciado mais e melhor não fora a escrita tão própria do autor pois, como já referi, o seu tom poético fez-me dispersar nesta leitura.

Cris
O Tempo Entre Os Meus Livros

Saturday, November 2, 2013

Imaginar

“Lá de cima, goza de uma inigualável panorâmica sobre a cidade, de onde contempla a cada dia o diálogo entre a comprida língua verde de um jardim e o seu estreito lago ao centro, que Ella imagina ser gigante e erroneamente apequenado pela distância. Consegue passar tempo imenso só a observar este lago: a imaginar a temperatura da água sobre a pele despida, e as diferentes tonalidades que ganhará nos diferentes dias de sol, chuva, neblina ou neve. Mas nunca lá foi. É que entre Ella e esse lago estende-se aquele jardim amplo, aberto – quase obsceno -, e estende-se a decisão de não o atravessar.”

“O Lago Avesso, de Joana Bértholo (Pág. 80)

Excerto escolhido por Márcia Balsas